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Entrevista | Frei Alberto Beckhäuser fala sobre seu 30º livro


 
 
 
Luogo:
Data: 17/04/2012
 
PUA

27/03/2012

Entrevista | Frei Alberto Beckhäuser
fala sobre seu 30º livro


Frei Maffei, OFM

Petrópolis (RJ) – Sacrosanctum Concilium: Texto e Comentário” é o título do 30º livro de Frei Alberto Beckhäuser. Esta obra compõe a Coleção Revisitar o Concílio pela Editora Paulinas e tem como objetivo apresentar os textos e comentários dos documentos do Concílio Vaticanos II. Frei Alberto é presbítero, doutor em Teologia com especialização em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo, em Roma. Foi responsável pela tradução e publicação dos textos litúrgicos no Brasil. Também foi assessor de Liturgia da CNBB. No presente momento, ele leciona Liturgia no Instituto Teológico Franciscano, em Petrópolis (RJ), e em vários outros institutos. Nesta entrevista, Frei Alberto apresenta sua última obra.



BECKHÄUSER, Alberto. Sacrosanctum Concilium. Texto e comentário. São Paulo: Paulinas, 2012.
Você poderá comprar esta obra atraves do site da Editora Paulinas. (Clique aqui)

Site ITF – Frei Alberto, a Sacrosanctum Concilium foi a primeira Constituição aprovada pelos Padres Conciliares e completará 50 anos em dezembro de 2013. Qual é a importância deste documento para a Igreja? E, o que o seu livro apresenta?
Frei Alberto: Sim, a Sacrosanctum Concilium é o primeiro grande documento discutido e aprovado pelo Concílio Vaticano II. Na publicação dos Documentos conciliares ela em geral é colocada em quarto lugar na seguinte ordem: 1. Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a natureza da Igreja; 2. Constituição Dogmática Dei Verbum, sobre a Revelação; 3. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo de hoje; 4. Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia.
Foi providencial que os Padres Conciliares tenham começado os trabalhos tratando da Sagrada Liturgia dentro do grande objetivo do Concílio de “Fomentar sempre mais a vida cristã entre os fiéis, adaptar melhor às necessidades de nossa época as instituições que são suscetíveis de mudanças e favorecer tudo o que possa contribuir para a união dos que creem em Cristo e promover tudo o que conduz ao chamamento de todos ao seio da Igreja”. Para atender a este grande objetivo, os Padres Conciliares acharam por bem cuidar de modo especial da reforma e do incremento da Liturgia. Isso, porque a Sagrada Liturgia constitui a alma e o coração da Igreja; é a própria manifestação (epifania) da Igreja, cume e fonte de toda a sua vida e ação.
A reflexão sobre a natureza da Liturgia abriu horizontes para a abordagem dos demais temas do Concílio, como a Igreja e a Revelação. Neste sentido, podemos dizer que a Sacrosanctum Concilium aparece como o Documento central e mais importante do Concílio Vaticano II, o Documento que mais mexeu com a vida da Igreja e suas estruturas.
Este Comentário apresenta o resultado de praticamente 50 anos de dedicação à Sagrada Liturgia. Realçaria três aspectos: 1º - Recordação do conteúdo da Constituição, tentando interpretar o seu espírito. 2º - Sua recepção em geral e, particularmente, no Brasil, apontando aspectos positivos e negativos. 3º - Desafios que permanecem em sua recepção e aplicação.

Site ITF – Certamente, após a promulgação da Sacrosanctum Concilium, passaram-se longos anos até a sua implantação. De modo mais específico, no Brasil, como se deu esta implantação, e para o que o seu livro chama atenção?
Frei Alberto: Num primeiro momento, a Sacrosanctum Concilium foi recebida com grande entusiasmo no Brasil. Isso aconteceu, sobretudo, entre os anos de 1964 e 1970. O clero, os religiosos e as religiosas, bem como o povo fiel, se entusiasmaram com a Liturgia em língua vernácula, com a participação ativa, com a abundância da Palavra de Deus como parte integrante das celebrações.
O Secretariado Nacional de Liturgia exerceu intensa atividade, ajudando eficazmente a todos na recepção e aplicação da Sacrosanctum Concilium. Promoveram-se estudos e cursos sobre a Sacrosanctum Concilium. Realizaram-se numerosos cursos de formação litúrgica para o clero, os religiosos e os leigos. Os Rituais renovados que iam saindo foram logo traduzidos para o português. Realizaram-se encontros de estudo dos diversos Rituais reformados, com publicação de trabalhos com orientações pastorais.
Houve, porém, alguns problemas na recepção da Sacrosanctum Concilium no Brasil como, por exemplo, uma interpretação parcial da participação ativa, reduzindo-a quase exclusivamente à participação oral, bem como uma criatividade pouco sadia, que levou a muitas distorções na Sagrada Liturgia, prejudicando sua compreensão teológica e sua espiritualidade. A Igreja no Brasil, em sua abertura legítima para o social e a promoção humana dos anos de 1970, esqueceu-se um tanto do aspecto espiritual e transcendente de sua vida. Assim, a Sagrada Liturgia foi, muitas vezes, instrumentalizada para outros fins, alheios à finalidade do Culto Divino, que são a santificação do homem e a glorificação de Deus. Houve também uma falta de distinção entre reforma e renovação da Liturgia. O que importa é a renovação, a participação eficaz e frutuosa, tendo a seu serviço a reforma.
Mas, de modo geral, a reforma da Sagrada Liturgia deu nova fisionomia à Igreja no Brasil. Encontramos inúmeras assembleias vivas, participativas e engajadas na ação da caridade. Contudo, sua implantação ainda tem um longo caminho a percorrer.



Site ITF – O documento conciliar sobre a Sagrada Liturgia abriu caminho para a abordagem de quais temas?
Frei Alberto: Esta questão pode ser considerada sob dois aspectos. Primeiro, a Sacrosanctum Concilium abriu caminho para o tratamento de outros temas no próprio Concílio. O tratamento da Sagrada Liturgia em sua íntima natureza, inserida no mistério da Igreja e na Economia da Salvação, a Liturgia como cume e fonte de toda a vida e ação da Igreja repercutiu decisivamente sobre a maioria dos documentos do Concílio. Podemos citar a Lumen Gentium, sobre a Igreja, a Dei Verbum,sobre a Revelação, a Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo de hoje. Não devemos esquecer os diversos Decretos, entre os quais os decretos Unitatis Redintegratio, Ad Gentes, Christus Dominus, Presbyterorum Ordinis, Perfectae Caritatis e Apostolicam Actuositatem.
Segundo, novos caminhos no âmbito da Sagrada Liturgia. Aqui podemos lembrar a compreensão teológica da Sagrada Liturgia; sua colocação e compreensão à luz da Economia divina da Salvação realizada na História, sendo a Sagrada Liturgia compreendida como momento histórico da salvação; a Liturgia colocada dentro do mistério de Cristo e da Igreja; a Liturgia como o exercício do múnus sacerdotal de Cristo; a Liturgia celebração de toda a Igreja, Cabeça e membros; a Igreja como Povo de Deus sacerdotal, real e profético que celebra e vive o mistério pascal; a importância e o lugar dos leigos na Sagrada Liturgia; a Liturgia como cume e fonte de toda a vida e ação da Igreja; o direito de todo o povo de Deus de participar ativamente da Sagrada Liturgia; a dimensão missionária da Liturgia; a necessidade de formação litúrgica em todos os níveis; a necessidade de uma reforma da Liturgia, simplificando seus ritos para que o povo fiel possa participar de modo consciente, ativo e pleno da Sagrada Liturgia; o encontro dos fiéis leigos com a Palavra de Deus abundante nas celebrações dos mistérios; a necessidade de uma pastoral litúrgica e de uma adaptação mais profunda dos ritos a certos povos e culturas, que hoje chamaríamos de inculturação da Sagrada Liturgia.



Site ITF – Durante o Concílio Vaticano II, o sr. estava se especializando em Liturgia em Roma e esteve presente na sessão pública solene da Promulgação da Constituição Sacrosanctum Concilium. Poderia contar-nos um pouco sobre esta experiência.
Frei Alberto: Uma experiência única, inesquecível, fonte de inspiração para uma vida dedicada à Sagrada Liturgia. Quando, no início do ano de 1963, eu tinha sido designado para me formar em Liturgia, em Roma, estive num fim de semana ajudando numa paróquia da Baixada Fluminense. O confrade pároco, como que debochando, me perguntou: “Você vai estudar Liturgia em Roma? Você não sabe dizer: Dominus vobiscum?” Era a mentalidade reinante! Uma compreensão rubricística e legalista de Liturgia. Eu tinha sido designado para especializar-me em Liturgia, porque o nosso confrade Frei Boaventura Kloppenburg voltou da primeira Sessão do Concílio, em 1962, com a notícia de que o Concílio ia exigir professores mestres em Liturgia.
A expectativa dos estudos em Roma era grande. Os antigos Rituais estavam praticamente superados, e os novos ainda não existiam. O que fazer? Creio que o Grupo de Professores do Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo, recém-fundado, foi de uma grande sabedoria. Introduziram os alunos nas fontes da Sagrada Liturgia: as Sagradas Escrituras, os Padres da Igreja e os diversos Rituais dos primeiros séculos do Cristianismo. Levaram-nos a buscar a teologia e a espiritualidade da Liturgia.
Assim, na expectativa do que o Concílio tinha resolvido, consegui, como era normal nas Congregações solenes do Concílio, uma entrada para assistir à solene Congregação de encerramento, onde seria promulgada a Constituição sobre a Sagrada Liturgia. Feita uma última votação do Documento que agradou aos Padres, Paulo VI promulgou solenemente o Documento. Ainda ouço a voz firme de Paulo VI: “In Nomine Sanctissimae et Individuae Trinitatis Patris et Filii et Spiritus Sancti ... (Em Nome da Santíssima e Indivisível Trindade Pai e Filho e Espírito Santo...). Continuam ressoando ainda as profundas e belas palavras de Paulo VI no discurso feito a seguir. Eis o início de sua ungida oração:
“Exulta o nosso espírito com este resultado. Vemos que se respeitou a escala dos valores e dos deveres: Deus em primeiro lugar; a oração, a nossa obrigação primeira; a Liturgia, fonte primeira da vida divina que nos é comunicada, primeira escola de nossa vida espiritual, primeiro dom que podemos oferecer ao povo cristão que junto a nós crê e ora; o primeiro convite dirigido ao mundo para que solte a sua língua muda em oração feliz e autêntica e sinta a inefável força regeneradora, ao cantar conosco os divinos louvores e as esperanças humanas, por Cristo, Senhor nosso e no Espírito Santo”.
Estas palavras traduzem bem a importância da Sacrosanctum Concilium para toda a Igreja e para a inteira humanidade.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
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