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Vocação Laical - "Dar vida pela nossa Vida"


 
 
 
Luogo:


Cronaca:
 
PUA

Frei Osvaldo Maffei Junior, OFM*
Petrópolis - RJ

     
    Certa vez estava Jesus a ensinar em público quando alguém se aproximou e o indagou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (1) A resposta de Cristo veio como uma incógnita: “Fazei todo o esforço possível para entrar pela porta estreita” (2) . Perguntamos: Será que aquele que havia indagado conseguiu entender a resposta do messias? E nós, entendemos?

    Logicamente, aquele que o indagou gostaria de ter recebido uma resposta simples como “Sim” ou “Não”. Porém, atrás da resposta de Cristo existe uma infinidade para se compreender. Quando Jesus responde que é preciso fazer esforço significa que é necessário se empenhar com ânimo, ou seja, com todas as forças que lhe são possíveis para entrar pela porta estreita. Mas será que a porta do céu é estreitíssima? Se for assim, então aqueles mais “avantajados” terão mais dificuldades para entrar no Reino dos Céus.

    Certamente Cristo não se refere a uma porta física ou qualquer coisa do gênero, e sim a um modo de vida, a uma postura frente às diversas possibilidades que nos cercam. Para compreender tal sentido, visualizemos a seguinte estória:

    Era uma vez uma pequena aldeia africana. A fonte de água situava-se a alguns metros apenas, e os habitantes da aldeia, gratos por esse caso favorável, viviam na maior alegria. As mulheres encarregadas de buscar a água gozavam de grande prestígio: todos os dias distribuíam vida à comunidade. Salomé, muito hábil, levava sempre duas bilhas: uma estava em perfeito estado, mas a outra, um tanto gasta, perdia água. Esta bilha, envergonhada com suas rachaduras, perguntou-lhe certo dia:
– Por que você não escolhe uma bilha que renda mais? Você não vê que desperdiço água, que não cumpro com minha missão? Quando chego à aldeia, estou vazia.
– Melhor dizendo: meio cheia, respondeu Salomé. Mas vem comigo.
Salomé tomou a bilha sob o braço e a levou pelo caminho da fonte:
– Quando volto, trago sempre tua amiga no lado direito e você no lado esquerdo. Agora, olha para o chão. A bilha olhou. No lado direito só havia poeira. Mas no lado esquerdo, flores. (3)

    A porta estreita do Evangelho nos indica o modo de se pôr diante da vida cotidiana. Muitas vezes desejamos produzir, ganhar dinheiro, estar bem vestidos, bem alimentados e passear muito. E quando temos algum “probleminha”, logo procuramos sanar a dificuldade, tal como a bilha com suas rachaduras, que desejava ser trocada por outra. No entanto, a bilha rachada não percebia que, através de suas rachaduras, dava vida a outras vidas.

    A porta estreita, por diversas vezes, causa dor, dificuldades que parecem até intermináveis. Mas quais são as portas estreitas de nossas vidas? Para um casal recém-casado: após algum tempo juntos, logo perceberão mais os defeitos do parceiro ou da parceira do que as virtudes; eis aqui uma porta estreita. Para um casal que teve o primeiro filho: no início tudo é alegria, mas no segundo, no terceiro mês de vida do bebê, logo perceberão a sua porta estreita, ou seja, terão que acordar de madrugada para acudir o filho ou a filha que está em prantos. Para um noviço: no primeiro mês, ao chegar ao convento, tudo é novo, tudo lhe inspira, mas vem a hora em que lhe bate a saudade da família e começam as dificuldades, logo percebe a sua porta estreita. Estes e tantos outros exemplos podemos elencar acerca da porta estreita de nossas vidas.

    É necessário fazer esforço para entrar pela porta estreita, não é fácil deixar nossa situação cômoda para ir ao encontro do irmão que necessita de nossa ajuda. Já pensou em fazer como a Salomé de nossa estória, que de modo simples levava vida para a sua aldeia. Em nossa vida, a quantos estamos dando vida? O nosso sorriso dá vida, o nosso “bom dia” dá vida, o nosso olhar carinhoso dá vida.

    Numa outra passagem do Evangelho, Cristo aponta o caminho da porta estreita, aponta o Reino de Deus cá na terra, com as seguintes palavras: “Tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me” (4) . Eis a porta estreita. No entanto, é preciso fazer esforço para sair de si, sair de nosso egoísmo, de nossa vida cômoda e, então, ir ao encontro do irmão.

    Neste domingo lembramos a Vocação Laical, e através destes apontamentos podemos entender que aqueles que abraçam esta vocação são como a Salomé e como a bilha, que por meio de suas condições possíveis possibilitam a vida a tantas outras vidas.

    Aos leigos, aos casados, aos sacerdotes, aos religiosos, a todos nós, é preciso auscultar, acolher e guardar em nossos corações o que o Senhor nos fala:

“Fazei todo o esforço possível para entrar pela porta estreita”

––––––––––––––––––––––––––
(1)  Lc 13,23
(2)  Lc 13,24a
(3) Autor desconhecido.
(4)  Mt 25,35-36


 

* Frei Osvaldo Maffei Junior é frade franciscano (OFM); graduado em Filosofia e estudante do curso de Teologia do ITF.

 

 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
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